Filha de um sobrevivente do Holocausto e mãe de sete filhos, Vivian transformou as dores e alegrias da maternidade em um grupo empresarial que aposta em valores tradicionais para enfrentar desafios do mundo contemporâneo
Num dia comum, há mais de duas décadas, Vivian Moas ouviu um barulho vindo da rua. Correu até a janela do apartamento e se deparou com uma cena que, à primeira vista, poderia parecer banal: o filho pequeno havia jogado os brinquedos pela janela. De todos, apenas os que havia ganhado da tia, que morava em Israel, resistiram à queda. Era apenas um episódio da maternidade real - caótica, imprevisível, mas cheia de intuições poderosas. Só que ali, naquela cena doméstica, plantava-se a semente de um negócio que mudaria sua vida e a de milhares de outras famílias.
Vivian nasceu e cresceu em São Paulo, em uma família judia, seu pai é sobrevivente do Holocausto. Ele chegou ainda jovem ao Brasil, onde buscou recomeçar. Sonhava em construir uma família grande, uma resposta íntima e resistente à destruição que havia presenciado na Europa. Conseguiu. Teve seis filhos, entre eles Vivian, que mais tarde perpetuaria esse legado - tanto no número de filhos quanto na forma de enxergar o mundo.
Ainda jovem, Vivian se casou com Ezra, israelense, também radicado no Brasil. Ele queria três filhos. Ela sonhava com 12. Pararam em sete. “A gente trabalha com o que ama”, eles dizem, como quem resume com simplicidade uma escolha de vida que passou longe do óbvio. Ao longo dos anos, a casa sempre cheia, a vida doméstica tumultuada e as dores cotidianas da maternidade não foram obstáculos, mas sim o combustível para criar, observar, encontrar necessidades reais e transformá-las em soluções.
Antes de empreender, Vivian fez faculdade de matemática - uma escolha movida mais pela paixão pela lógica do que por um plano de carreira. Trabalhou na área de TI de uma fábrica, mas rapidamente entendeu que o modelo tradicional de trabalho não era compatível com a sua rotina. “Não podia faltar. E chegava em casa com o filho doente. Pensei: preciso ter meu próprio negócio, algo que me dê flexibilidade de horários”, conta.
Foi assim que o desejo por autonomia se misturou à vocação criativa. Primeiro, vieram os acessórios personalizados para bebês, depois, o desejo de importar produtos que fizessem sentido para as famílias brasileiras - como os brinquedos resistentes de Israel que sobreviveram à brincadeira do primogênito. Com a abertura das importações, a ideia floresceu. Vivian e Ezra arregaçaram as mangas. Nascia a Brasbaby. Com o tempo, a empresa cresceu e se transformou na Brasgroup, que hoje abriga marcas voltadas ao universo infantil e pet, como Clingo, Germanhart, Just e a linha mais recente - a Natuzinho.
Mas o crescimento da empresa nunca foi linear. Ele se deu com tropeços, reavaliações e, sobretudo, escuta. “Os erros nos ensinaram mais do que os acertos. Às vezes você acha que o que você precisa é o que todo mundo precisa, mas nem sempre funciona”, avalia Vivian. A sensibilidade para entender os limites de cada produto - e de cada momento - sempre esteve no centro da tomada de decisões. E muito disso, segundo ela, tem a ver com ser mulher. “A mulher tem uma sensibilidade a mais, um sentido apurado. Às vezes é preciso respirar, dar um tempo. Isso muda todo o cenário”, reflete.
Ao longo do tempo, a empresa se tornou um verdadeiro negócio de família. Os três filhos mais velhos começaram a trabalhar juntos na gestão. Porém,a convivência entre gerações nem sempre foi fácil. “No começo meu marido ficou contente, mas depois vieram os conflitos. Existe uma concorrência entre sabedoria e juventude. Eu fazia o papel de mediadora”, conta. Foi preciso tempo - e escuta ativa - para amadurecer. Hoje, ela vê com orgulho esse convívio entre tradição e inovação. “Estamos num momento maduro, em que as ideias novas estão funcionando bem, e isso é mérito do amadurecimento coletivo de todos nós na liderança da empresa”, pondera.
A linha Natuzinho, lançada recentemente, representa não só um novo segmento para a empresa, mas uma mudança de mentalidade. A ideia nasceu de uma inquietação antiga: a falta de papinhas saudáveis, práticas e acessíveis para bebês em fase de introdução alimentar. Ao ouvir de um pediatra que não existiam boas opções no mercado, Vivian e a equipe decidiram agir. “Fomos atrás de uma fórmula segura, orgânica, sem conservantes, com validade estendida por processos tecnológicos, que atendesse inclusive aos públicos celíacos, veganos e kosher. Fizemos uma pesquisa profunda com profissionais da saúde para entender o que as famílias realmente precisavam”, explica.
A escolha do nome, o cuidado com o sabor único em cada embalagem, a busca por ingredientes naturais - tudo reflete uma convicção que ela carrega há anos: não é preciso abrir mão do cuidado em nome da praticidade. “As pessoas acham que é fácil comprar uma salsicha, mas também pode ser fácil comer bem e de forma saudável. É preciso oferecer alternativas reais”, afirma.
Mais do que uma empresária, Vivian valoriza o tempo em família, cultiva os encontros nos fins de semana, inventa jogos em casa e organiza viagens curtas para manter todos por perto. “Reunir a família virou prioridade”, diz. Essa mesma filosofia ela aplica no trabalho: fazer as coisas com calma, respeitar o tempo dos processos, garantir qualidade antes da velocidade.
Quando fala sobre o futuro, ela é direta. “Não vamos acalmar enquanto não entendermos que no Brasil qualquer família, qualquer pessoa, que precise de algo saudável e prático, encontre isso com facilidade. Queremos ver a Natuzinho em todo lugar, acessível e próximo das pessoas”, enfatiza.
Vivian não se vê como heroína, mas como alguém que aprendeu a ouvir - o mercado, os filhos, os erros. E que transformou cada escuta em um passo. Seu sucesso não está em grandes slogans ou conquistas financeiras. Está na crença de que é possível fazer o certo. “A juventude precisa de valores antigos que continuam atuais. Ainda acredito em uma geração que para e pensa: o que eu estou dando para o meu filho comer?”, finaliza.
No fundo, essa é a herança que ela mais valoriza - aquela que vem lá de trás, de um pai que sobreviveu à guerra e sonhou com uma família grande. Hoje, em cada brinquedo embalado ou uma papinha saudável vendida, Vivian honra esse sonho. E, do jeito dela, vai refazendo o mundo - um filho por vez, uma ideia por vez e uma geração por vez.
Sobre a Brasgroup
Com mais de 25 anos de experiência, a Brasgroup é referência no desenvolvimento de produtos voltados ao cuidado com bebês, crianças e pets. Detentora das marcas Clingo, Germanhart e da linha de alimentos infantis Natuzinho, a empresa une inovação, segurança e praticidade para proporcionar bem-estar em todas as fases da vida. Com sede em São Paulo e centro de distribuição próprio em Santa Catarina, a Brasgroup reforça seu compromisso com a qualidade, o afeto e o conforto no dia a dia das famílias.