7 perguntas-chave sobre saúde na juventude

Especialista da Inspirali destaca os desafios e cuidados para passar essa fase de uma forma tranquila e saudável

A passagem da infância para a adolescência é marcada por incertezas. Familiares precisam estar preparados para esta nova fase, principalmente apoiando os jovens em relação às dúvidas e mudanças bruscas de comportamento típicas deste período.


No mês que é celebrado o Dia Internacional da Juventude, a Inspirali, ecossistema que atua na gestão de 15 escolas médicas em diversas regiões do Brasil, convidou o Dr. Genner Barbosa do Nascimento, médico Hebiatra e professor da UnP, para responder a algumas perguntas sobre a saúde dos jovens. Confira:


1 - Em qual período da vida uma pessoa é considerada jovem?

R: Existe uma diferença entre puberdade, adolescência e juventude. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência é dos 12 aos 18 anos. Já para a Organização Mundial de Saúde, é dos 10 aos 20. O Estatuto da Juventude, que é um estatuto próprio, sugere que vai dos 15 aos 29 anos. Ou seja, adolescência é algo mais comportamental, mais psicológico. A puberdade vem com as mudanças físicas que a gente vai percebendo no corpo.


2- Quais as características de uma pessoa nesta fase?

R: Nesta fase, ela busca por identidade e independência. Não querem mais serem vistas como crianças, e sim como pessoas que podem tomar decisões, que podem tomar conta de si próprias. Os jovens também costumam ter uma maior energia física e muita disposição, embora alguns gostem de dormir bastante. Eles têm uma tendência a entrar em situações de risco por conta da impulsividade, afinal de contas o córtex pré-frontal ainda não está com todas as suas conexões feitas, com todas as suas mielinizações, os neurônios não estão mielinizados ainda. Tem uma necessidade intensa de pertencer a um grupo, de pertencimento social. Um jovem sem grupo não é um jovem saudável. E, por último, o desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais e sociais.


3 - Quais os principais cuidados com a saúde devem ser considerados neste período?

R: Os principais cuidados com a saúde seriam uma alimentação bacana, equilibrada, ingestão de muito líquido, muitos nutrientes, vitaminas e, enfim, uma prática regular de atividade física. Regular que eu digo não é uma coisa que seja esporadicamente. Precisam de algo rotineiro que seja, pelo menos, três vezes por semana, algo constante. Um sono de qualidade também é necessário, porque é no sono que acontece a liberação do hormônio do crescimento.


O sono também é imprescindível para um descanso, uma fixação de conteúdo de escola, de faculdade, para o humor e diminuição do estresse. Vacinas em dia também é algo importante nesta época. Mesmo que o calendário vacinal esteja completo da infância, existem algumas vacinas próprias da adolescência e da juventude, como para o HPV.


Orientação sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, pois muitos esquecem ou vão na impulsividade do sistema límbico e acabam não se protegendo. Evitar, obviamente, álcool e drogas, cigarros, e vape, que é extremamente prejudicial. E o cuidado com a saúde mental, que eu deixei por último porque realmente é o que está mais em evidência hoje em dia. Esse cuidado é essencial porque hoje vemos muitos jovens com problemas de ansiedade, depressão, com riscos de autolesão e até mesmo desfecho fatal, risco de suicídio.


4 - Nesta fase, é necessária a realização de um check-up anual?

R: Sim, check-up anual nessa fase é imprescindível, porque conseguimos detectar alguns problemas inerentes à faixa etária, além de ser uma excelente oportunidade para prevenir o que está por vir, tanto as mudanças fisiológicas comuns que realmente vão acontecer, quanto as que podem acontecer e não são fisiológicas. Trata-se de doenças realmente que notamos que acontecem, estatisticamente até bem prevalentes, então é importante fazer a prevenção, não só de doenças, mas de questões emocionais, inclusive, de situações que podem levar a uma depressão, a uma tristeza exacerbada, a uma frustração maior e ensinar como lidar com essas situações.


5 - Saúde mental é mais preocupante para jovens? Por quê?

R: A saúde mental é realmente mais preocupante para os jovens. Primeiro, existe uma predisposição biológica pelas alterações hormonais, a parte neuroquímica, que são próprias da idade. O cérebro ainda está em desenvolvimento, especialmente o córtex pré-frontal, que é onde temos o controle dos impulsos, planejamos as coisas com maior clareza e avaliamos riscos. O jovem não tem essa parte desenvolvida ainda, então ele é mais vulnerável para riscos.


Existe, também, uma vulnerabilidade genética. Um histórico familiar de transtornos mentais, com ressalva para a relação ao uso de drogas e predisposição genética a esquizofrenia. Temos as influências ambientais, além das biológicas, como as pressões acadêmicas, competitividade, desempenho escolar nos esportes. A comparação do jovem com, por exemplo, um outro ente da família e as expectativas familiares, pois até pouco tempo aquele jovem era uma criança e dependia dos pais para suas escolhas, mas agora eles possuem os seus próprios pensamentos e vontades.


Muitas vezes os pais ficam frustrados e pode desencadear um conflito dentro de casa, nas relações afetivas. Cabe aqui ressaltar, ainda, os impactos do uso de telas e redes sociais em demasiado. A exposição prolongada dessa parte digital prejudica muito o sono e dificulta a regulação emocional. Muitos conteúdos incentivam a questão de padrão de beleza, de consumo, de comportamento, sendo muitas vezes coisas irreais que os jovens não conseguem, por falta de um córtex pré-frontal maduro, identificar que aquilo ali é apenas algo fictício. Essa comparação leva à depressão, podendo causar autolesões e coisas mais graves, pois mexe muito com a autoestima.


Muitos jovens também estão inclinados a um sentimento de não pertencer e não ser suficiente. A pessoa fica com essa sensação de que poderia sempre ser melhor. Temos também a distorção da própria imagem, como a anorexia. Vai existir, ainda, o aumento da ansiedade, da pressão e comportamentos autodestrutivos, que a gente, infelizmente, vê todos os dias. Passamos recentemente por um isolamento social, e isolamento social para jovem não é bacana, porque jovem precisa estar inserido num grupo para poder pertencer a esse grupo. Podemos perceber isso no impacto do rendimento escolar, que geralmente cai. Alguns projetos de vida também, projetos interpessoais. Tudo isso mexe com a saúde mental do jovem.


6 - Quais as doenças mais prevalentes nesta fase da vida?

R: Algumas doenças mais prevalentes nessa fase são as lesões esportivas, lesões por imprudência em questão de uso de automóveis e de moto, até mesmo de bicicleta. Também acontecem as acnes e problemas dermatológicos. Obesidade e distúrbios alimentares, por exemplo, anorexia nervosa, principalmente em meninas ou bulimia. A obesidade pode levar a doenças mais sérias e crônicas, como hipertensão e diabetes tipo 2.


Outra coisa que é bem comum são as infecções sexualmente transmissíveis que, pela falta de informação, o jovem acaba se expondo mais. E, por último, a ansiedade e a depressão, que é algo que a gente está vendo crescendo exponencialmente nessa faixa etária, muito mais do que nos adultos e nos idosos. Vemos um crescimento no número de jovens com esses problemas, seja pelo bullying, seja por outros motivos, que devemos investigar e detectar em tempo para iniciar logo um tratamento ou encaminhar para o psiquiatra, dependendo do caso.


7 - Quais as dicas para ter uma juventude saudável?

R: Eu sempre costumo dizer que quando a gente entra na juventude e na adolescência é um recomeço, chamo de fase AEIOU. O “A” de autoestima e autoconfiança; “E” de empatia, que é se colocar no lugar das pessoas; “I” de intensidade, é tudo muito intenso e a gente precisa direcionar essa intensidade para coisas boas, para liberar dopamina; “O” de objetivo, ter um alvo a atingir. E o “U” de saber que tudo isso junto é que funciona, um U de unidade. Esse AEIOU, todo junto, é o que proporciona uma juventude mais saudável, mais tranquila e mais até divertida.

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