A relação entre a saúde bucal e o bem-estar do coração ganha relevância no tratamento da apneia obstrutiva do sono, uma condição que vai muito além do ronco.
A apneia obstrutiva do sono é um distúrbio caracterizado por interrupções repetidas na respiração durante o sono, provocadas pelo relaxamento excessivo dos músculos da garganta e pela obstrução parcial ou total das vias aéreas superiores. Embora muitas pessoas associem a apneia apenas ao desconforto noturno ou ao ronco intenso, seus impactos podem se estender de maneira silenciosa e progressiva para a saúde cardiovascular.
O organismo responde a cada pausa respiratória com microdespertares, que elevam a frequência cardíaca e aumentam a liberação de hormônios do estresse. Com o tempo, esse ciclo constante pode contribuir para alterações na pressão arterial, inflamação crônica e sobrecarga cardíaca. Não raro, indivíduos com apneia não tratada apresentam maior propensão a desenvolver hipertensão, arritmias e outros problemas circulatórios.
É nesse contexto que a odontologia desempenha um papel estratégico. O cirurgião-dentista capacitado em odontologia do sono atua de forma integrada no diagnóstico e no manejo clínico do distúrbio. Por meio de exames específicos e de uma análise detalhada da anatomia oral, o profissional identifica sinais de obstrução das vias aéreas, como o estreitamento do espaço orofaríngeo, alterações na posição mandibular e características do palato mole que favorecem as interrupções respiratórias.
O tratamento odontológico frequentemente envolve o uso de aparelhos intraorais confeccionados sob medida, que reposicionam a mandíbula e ajudam a manter as vias aéreas desobstruídas durante o sono. Essa abordagem, especialmente indicada em casos leves e moderados, pode reduzir os episódios de apneia e minimizar o esforço cardíaco, promovendo noites mais tranquilas e protegendo a saúde cardiovascular.
Além dos dispositivos, o acompanhamento odontológico inclui orientações sobre hábitos que impactam a qualidade do sono, como controle de peso, postura e práticas de higiene do sono. A atuação conjunta com médicos do sono, otorrinolaringologistas e cardiologistas amplia a eficácia do tratamento e reforça a prevenção de complicações a longo prazo.
*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia, capacitado em odontologia do sono e doutorando pelo laboratório do sono do InCor, da Faculdade de Medicina da USP.
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