Condição afeta a produtividade, pode sinalizar distúrbios do sono e exige atenção profissional para diagnóstico e tratamento adequados
*Por Alexandre Annibale
A sonolência excessiva durante o dia, popularmente tratada como “cansaço acumulado”, pode esconder causas bem mais profundas. A condição, conhecida clinicamente como Sonolência Excessiva Diurna (SED), tem sido cada vez mais observada em pessoas que, mesmo dormindo aparentemente o suficiente, apresentam episódios recorrentes de sonolência em situações cotidianas, como após o almoço, durante viagens ou até assistindo televisão.
Entre as causas mais comuns está a privação de sono, algo que se tornou estrutural nas rotinas modernas. Muitas pessoas abrem mão de horas de descanso em prol de produtividade, seja por compromissos profissionais ou escolhas pessoais. Esse padrão, além de reduzir o desempenho mental e físico, pode gerar impactos sérios na saúde a longo prazo.
Outro fator frequentemente associado à sonolência excessiva diurna é a apneia obstrutiva do sono — distúrbio respiratório caracterizado por pausas repetidas na respiração durante o sono. Embora nem todos os pacientes com apneia apresentem SED, a condição pode ser um dos sintomas clássicos. O alerta é importante: muitas pessoas com apneia grave não se sentem sonolentas durante o dia, mas mantêm risco elevado de problemas cardiovasculares.
Há, ainda, uma ferramenta útil para rastreio: o questionário de Epworth, que avalia a propensão de adormecer em oito cenários comuns do dia a dia. Responder se há chance de dormir em situações como esperar uma consulta, viajar de carro como passageiro ou assistir TV ajuda a identificar padrões suspeitos. Quando o resultado sugere níveis moderados ou altos de sonolência, é indicado procurar um profissional especializado em sono.
Outro ponto importante é a distinção entre a sonolência e o diagnóstico da apneia. Enquanto a apneia pode ser classificada em leve, moderada ou grave, o impacto da sonolência varia de forma independente da gravidade do distúrbio. Pacientes com poucos eventos respiratórios por hora podem ter SED intensa e, por isso, merecem tratamento. Por outro lado, casos graves de apneia sem sintomas de sonolência também devem ser tratados devido ao alto risco cardíaco.
*Alexandre Annibale é cirurgião dentista, especialista em ortodontia, capacitado em odontologia do sono e doutorando pelo laboratório do sono do InCor, da Faculdade de Medicina da USP.
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